quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

senão sonhar

Hoje, na aula de Português, ao abrir o livro deparei-me com o seguinte texto:

"Eu nunca fiz senão sonhar
Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e apenas esse, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se quando, abrindo a janela para dentro da mim, pude esquecer-me na visão do seu movimento.
Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Tudo o que não é meu, por baixo que seja, teve sempre poesia para mim. Nunca amei senão coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem podia imaginar. À vida nunca pedi senão que passasse por mim sem que a sentisse. Do amor apenas exigi que nunca deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minhas próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os aquedutos que se esfumam - quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes de paisagem - um doçura que fazia com que eu as pudesse amar."
Bernardo Soares, Livro do Desassossego

E era só para dizer que este Fernando Pessoa (Bernardo Soares) nasceu para escrever, apesar de não sentir, os sentimentos dos outros, ele percebia tanto do que se passa por aqui!

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